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quarta-feira, 11 de junho de 2014

Inverso


Quero o mais estéril dos sonetos,
Dos sentidos o mais árido e duro,
Um cataclismo de cianureto
No mais diminuto e ressequido dos futuros.

Quero desafiar o alótropo do carbono─ o preto,
A dissimular um poema obscuro,
Que seja tão desprezível como um inseto
E como infante totalmente inseguro.

Quero cuspir nos últimos tercetos,
Relegando a maturidade dos próximos versos
(Desprezo, por assim dizer, os préstimos do carbureto);

Que sob os lampejos de Aldebarã imersos,
Não desejo nada além do obsoleto.
Dessa ode negra só espero o inverso.

(Víctor Souza- 11/06/2014)

sábado, 4 de janeiro de 2014

Sambô



Um salve
a baiana Dona Canô,
a Negra do Sol
que joga Tarô,
a humanidade e  a beleza
de Brigitte Bardot,
ao Zé do Caroço,
ao meu Orixá Xangô,
ao samba de Arerê,
ao aço fundido do agogô,
ao choro da cuíca
a la Yorubá Nagô.
Vibre ao samba,
pois mente
quem finge que não sente
a batucada demente
de um samba cadente
e coro envolvente dos bandolins.
Mente quem não se enternece
Com o som estridente
De um reco-reco pungente
Ao reclamo descrente
Das conversas tristes de botequins.


Víctor Sousza (04/01/2014)

quarta-feira, 23 de outubro de 2013

INFORMAÇÕES COTIDIANAS


Fome dominical
Se a fome, 
esta impoluta inconveniente, 
soubesse a metade da preguiça
que tenho em saciá-la, certamente 
não faria esfomeado este inocente.
Mas se dormir resolver o problema,
o farei novamente, 
lá a fome deve ser coisa da imaginação.
(Víctor Sousza) 20/10/2013

Monografia
Monografando.
Sugando toda citação simplória,
Apelando ao Idem, Ibdem, Op. cit. e a glória.
Já passam das três horas.
Se dormir não acabo essa história,
Se acordado fodo o resto da memória.
Psicografando
essa praga obrigatória...
(SOUZA, Víctor apud XAVIER, Chico 2013) 30/07/2013

Obrigação
Ando no mundo da lua,
no meio de uma papelada de um sem fim,
queria mais era uma cama quente
ou conversa fria de boteco no meio da rua,
ao invés de ter que ler códigos e frases em latim.
(Víctor Sousza) 23/01/2012


Chama maré
Vai pro mar onde reggae troa,
Se não tem mar,
Vai pra lagoa,
Se a barca afundar,
Pega a canoa,
Em Lisboa,
Já dizia pessoa:
“O lance é ficar de boa,
Os erros a alma perdoa”.
E a vida? A vida não termina nunca.
Você deve ficar e ver o mundo acabar.
(Víctor Rafael) 09/06/2012

Amar é outra coisa
Na verdade nem todo beijo exprime desejo.
Nem todo abraço é sinal de afago.
Sou agradável quando me cabe
e quanto lhe convém. 
Amar significa outra coisa, que eu também já nem sei.
Na verdade ser gentil é ter respeito por alguém,
E aquilo sinto não justifico a ninguém.
Só adianto que o amor vai mais além...
Amar significa outra coisa, 
que eu também já nem sei...
(Víctor Sousza) 12/01/2011


quarta-feira, 17 de julho de 2013

Vem pra rua



Levantai-vos, massas carcomidas,
Adormecidas por profecias de longas datas.
Derrubai os parlapatões em suas ribaltas,
Enobrecei esta nação traída.

Vem pra rua e com gritos de primatas
Pinta a tua cara até então desconhecida,
Desperta a Vera Cruz prostituída
E iça com esplendor as tuas clavas.

Ordena, assim, o progresso do teu lábaro,
Menoscabado em engoda mão servil.
Expurga, canta, urra a miséria deste tártaro,

Ó dissimulada mãe gentil.
Insurge e ressuscita como Lázaro
a pátria a ser amada- Brasil.

(Víctor Rafael Sousza)

quinta-feira, 4 de julho de 2013

Da Jornada



Amor
que de amiúde
fez-se grande
e de repente
fez-se terno,
fui teu amigo
enquanto pude,
quero te amar
além
eterno.
E se exagerada
for tão longa jornada,
que tão logo,
ao menos,
não cesse
meu amor,
antes dele cesse
minha vida,
pois antes e só
e sendo amante
do que apenas
matéria inacabada,
predisposta
e tão somente
a torna-se
apenas

.
(Víctor Sousza)

sábado, 2 de fevereiro de 2013

Iconoclasta




Nada de muita teoria me basta,
Inclusive os santos e seus sermões.
Seria eu um iconoclasta
Ou apenas um desafeto de longas opiniões?

Desafeto seria das imagens veneradas
E daqueles que semeiam vastas especulações.
Nunca entendi como uma efígie parada
Pode ser alvo de tantas devoções.

Ponderai, pois, vossos louvores.
Os santos anseiam por tinta de boa qualidade,
Não por vossos favores.

Simplificai, assim, as divindades,
As várias variáveis, os valores.
Ignorai a clemência a esterilidade.

(Víctor Sousza)

quarta-feira, 12 de dezembro de 2012

Da Alvorada




Hoje a saudade veio cumprimentar-me de mau jeito.
Mal amanhecera o dia
E ainda prostrado ao meu leito,
De bruços a esfolar a fronha macia,
Senti tua ausência
A estraçalhar meu peito.
Saudade talvez por devaneio,
Impulso, libido ou volúpia.
Talvez por defeito
Afeto, flama, fogo ou fulgor.
É saudade de cada veia,
Ventrículo, cada olhar estreito,
Cada sussurro rarefeito...
Uma saudade puta desgraçada,
Que não tem hora marcada,
Mas que sempre em meio à alvorada
Começa a enzambuar meu peito.

(Víctor Sousza) 12/12/2012