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terça-feira, 14 de dezembro de 2010

Da SilenciosaMente


Silêncio, companhia de quem procura

Na ausência da amada criatura

O momento em que o coração mais reclama.

Já dizia a plagia do provérbio:

Mente vazia, oficina de quem ama.

Só digo isto, porque moro em um refúgio,

Onde não há um só rugido,

Onde sou vizinho da saudade,

E o silêncio o meu melhor amigo.

Se morasse em outra cidade,

Viveria um amor errado

Desses que se vê todo dia,

Em que a rotina é uma abusada companhia.

Que Deus perdoe meus pecados...

Mas se for pra viver assim

Prefiro viver só a "muito bem" acompanhado.

Que isto não seja uma praga, apenas um provérbio

Proferido nesta muda poesia

Onde versos não têm vozes

E as estrofes são vazias.

Onde muitas vezes se diz melhor calando

Do que falando em demasia...

(Víctor Sousza)

domingo, 24 de outubro de 2010

Do nome Ana Mara


Rasga esses versos que eu te fiz!
Deita-os ao nada, ao pó ao esquecimento,
Que a cinza os cubra, que os arraste o vento,
Que a tempestade os leve aonde for!
Rasga-os na mente, se os souberes de cor,
Que volte ao nada o nada dum momento.
Julguei-me grande pelo sentimento,
E pelo orgulho ainda sou maior!... (Florbela Espanca)
___________________________________
Devagar...
Preciso pensar no que dizer,
E elencar tuas qualidades raras:
Ser bela, palhaça, inteligente e portátil.
E escondê-las em versos
Onde incólume se faça teu ser pulsátil.
Às vezes difícil, etcétera e chata,
Mas não quero aqui expor reclamações alegres,
Nem comprar briga cara.
Quero apenas criar um pequeno poema,
Que tenha por título: Ana Mara.
Sei que com ele não lhe trago estética
E nenhuma bela poética.
O que lhe ofereço é apreço,
Que se esvaem em versos brancos, baratos, brocardos.
Mas sinceros...
De carinho repleto.
E por ser pequeno
Não mais me estendo.
Já tenho sono que consome
Por entre uma noite que esconde o lume.
Peço apenas desculpas por tão pobre poema,
Levar teu tão exuberante nome.
(Víctor Sousza)

sábado, 16 de outubro de 2010

Da alma


Em uma terra em que tudo se forja,
Em que se dá nó em fumaça.
Onde só é gente quem tem força.
Desabafo não por graça.
Escrevo não por tédio,
Mas, por raiva.
Pois repulsa-me os trocados que trago comigo
Ao ver olhos implorarem por vida
E a morte edificar seu trono.
Ontem percebi uma criança a chorar por fome.
De tão magra vi também a alma.
Comovi-me àquele abandono.
Meus sentidos corroeram àquele desespero,
Minhas atitudes paralisaram em pena. (Víctor Sousza)

sexta-feira, 13 de agosto de 2010

Da Rotina ao Fim do Meio Dia




Ciclometria vital.
Acordar às 06:00h,
Sentir as batidas do meu coração demente,
E dar bom dia, bom dia.
Um banho frio, um café quente.
Ao som de histéricas músicas
Sem qualquer companhia.
Saindo às 07:00h,
Dando a mão pra Dona Maria, para Seu Zuza,
Encontrando tantas outras laborosas criaturas.
O trabalho informal, os “ice Kiss”, os malabares,
Os vendedores de jornais, que nada trazem de novidade:
- morte, tráfico, corrupção e uma gostosa seminua!
A miséria cega às 07:30h,
Um ônibus lotado,
Vade Mecum pesado.
A camisa já suada,
O “311” sempre enfurecido em meio às curvas.
Chego às 08:00h já atrasado,
─ Bom dia.
─ Com licença professor(a).
No peito agasalha-se o descanso,
Na cabeça começa o trabalho.
Intervalo às 10:00h.
Dialética entre amigos,
Comida requentada,
Reclamações frustradas,
“Returning to class”!
No peito restringe-me a vontade.
Na cabeça convida-me o silêncio.
Saio às 11:00h.
“311”, miséria cega, suor, cansaço, fome...
Flechas de sol descem perpendicularmente
Sem trégua alguma.
São 12:00h.
Espero por um banho gelado,
Por uma bebida fria.
Almoço (que seja requentado, só exijo uma companhia).
É tudo somado,
É meu bolero.
É minha vida em meio dia.
(Víctor Sousza)

domingo, 25 de julho de 2010

Fuga em Sol Maior


Conta a lenda que dormia
Uma Princesa encantada
A quem só despertaria
Um Infante, que viria
De além do muro da estrada. (Fernando Pessoa)
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Tocatta
Foge Beatriz !
No teu encalço, sem piedade, estão todos do Reino,
Malabaristas, tropeiros, bruxas e vendilhões . . .
Tua cabeça está a prêmio, teu coração não importa,
Tua graça, teus arabescos no ar, teu movimento/
Caíram em desgraça/
Agora és a caça.
Foge !
Outro tempo de Venturas criaste nos caminhos de muitos/
Foste Musa/ Foste Estrela/
E em tua luz/ tantos tristes se aninharam/
E teu canto inflou tantas almas secas/
Tua palavra acendeu chamas apagadas/
Teus contos fizeram a festa/
Deste um banquete de dez mil talheres/
Onde o prato principal eras tu !
Foste devorada e bebida e ainda saístes viva/incólume/
E ainda assim . . . mais bela, mais artista, mais feliz !
Como poderiam suportar ?
Foge Beatriz !
Antes que peçam bis/ que o Arcanjo passe o chapéu !
Escapa pelas vias estreitas das almas penadas/
Pega o trem do nunca mais/
L’ avion de nulle part !
No Reino para trás/
Teus vampiros abominarão tua fuga em Sol Maior !
Porque partiste para a Luz/
Irás brilhar e ser feliz em outras esferas/
Enquanto eles . . . amargurados/
Arrastarão para sempre suas correntes pesadas/
Suas malas cheias de tralhas inúteis/
Que ousada e imprevidente/
Mandaste abandonar/ se quisessem seguir-te !
Não souberam Beatriz/ Não ousaram/
Alguma coisa desejavam guardar/
E perderam teu rumo . . .
Agora, novamente livre e feliz/
Acenas sem reservas/
Para os corações de eras ultrapassadas/
E eles estão frios e apertados/
Cansados e descrentes . . .
Como podes tocar tua flauta ?
Pára de agitar os teus guisos !
Inclementes e insatisfeitos/
Os antigos convivas do banquete festivo/
Querem mais ! E não podem aceitar/
Que a tanta fartura não tenham direito sequer/
A uma côdea do pão sublimado.
Foge em Tocata/ pianíssimo . . .
Diz adeus/ parte para outras jornadas/
Onde te aguardam famintos menos amargos/
Que desconhecem inocentes/
Tua história tão linda/tão louca/tão proibida !
O dia amanhece . . . Be actress !
Pega carona nas asas salvadoras da tua música/
Embarca na estação do nunca mais . . .
Sem deixar sinais/endereços nem lembranças/
Foge Menina sem tempo/ viajante sem peso/
Imponderável criatura do infinito/
Antes que alcancem as redes/
As armas/as amarras/ as pedras duras/
Dos corações pecadores e perdidos . . .
Pronto ! Acabou ! Diz Adeus/
Dizer Adeus é Viver !
Vai ser feliz longe de tudo . . .
De todos os olhares do passado/
Que miram espelhos retrovisores/
E não aceitam que tenha se passado a estação/
Que tenha partido o trem . . .
Para trás . . . para trás . . .

(texto de Valéria Montenegro)


terça-feira, 8 de junho de 2010

Os direitos fundamentais e sua concretização


Os direitos fundamentais, albergados no artigo 5º e incisos da nossa Carta Política, constituem-se normas pétreas que não podem ser subtraídas e muito menos alteradas por emendas constitucionais. Destarte, não façamos deste entendimento a sua funcionalidade, visto que, nos dias de hoje, os órgãos da administração pública estão longe de atender às suas finalidades, em especial o Sistema Único de Saúde (SUS), ao qual compete prestar assistência médica e gratuita à população. A sociedade está estarrecida com os governantes e a forma pela qual seus secretários e ministros, dependendo da esfera governamental, coordenam a máquina estatal. De outro norte, não podemos somente recriminar os órgãos públicos pela incompetência em determinados setores. Temos que cumprir nosso papel como cidadãos integrantes de um Estado de direito, que nos possibilita mostrar que o poder emana do povo e para ele deve se dirigir. O Mestre Rousseau, em sua brilhante obra Do Contrato Social, ensina a magnitude desse sistema, em que os cidadãos deixam de ser meros súditos para participar da constituição da base administrativa do Estado. Atualmente, com a corrupção evidenciada e os escândalos aflorados, devemos, mais do que nunca, exigir o cumprimento das cláusulas pétreas, distanciando-nos da falácia de sua imutabilidade. Porém, não somente em relação aos pobres e miseráveis, como se entende comumente, ou melhor, como a mídia, que é verdadeiro instrumento de alienação, vende para seus milhares de telespectadores, mas relativamente a todo e qualquer cidadão. É preciso acabar com a demagogia de criar leis inúteis, sem eficácia concreta (Estatuto do Idoso, por exemplo), achando que o problema está na falta de leis, quando, na verdade, o que falta é atitude. Até porque, muitos do povo acreditam que ser cidadão é votar nos dias de eleição e depois submergir no mar do senso comum. Não sejamos mais súditos, e sim, membros de um Estado que impõe deveres e obrigações para todos. NOTA : Importante salientar que o caráter gratuito é acobertado pelos tributos embutidos em cada mercadoria ou serviço utilizado, sendo que essa é a contrapartida que o Estado deve à população. (DIXON TORRES)

quinta-feira, 27 de maio de 2010

Amar: ironia, sexo, amor e poesia.



Sem privações 
Mergulho entre anseios,
Postergo todos os entendimentos normais.
Encontro minha maior altitude, dentro do sol no alto céu.
Busco sossego,
Busco estúrdias,
Busco bares,
Busco transgressões à Beira-Mar,
Busco a ínfima beleza efêmera de uma noite.
Desvaneço as raparigas que me trouxeram alegria.
Apagando as sombras dos seus passos,
Olvidando os encantos, dos teus cantos sob o amanhecer a luz do dia.
Amar: ironia, sexo, amor e poesia.
Do íntimo destino involuntário.
Das liberdades limitadas,
Dos pícaros sem nada.
De corações atômicos sem explicações.
Boemia, eis me aqui!
Pois, no meu antanho relembro os nódulos cálidos e as marcas,
E hoje o que cobiço ao mundo.
É aproveitar cada minuto.
Como nunca mais...
Amar: radioatividade hereditária nuclear. (Víctor Sousza)

segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

"A grande metáfora do Haiti"

Esse texto "A grande metáfora do Haiti" escrito pela grande profª Valéria Montenegro, em poucas palavras encontra (embora inimaginavelmente distante) o imenso sofrimento desse país literalmente em ruínas e assombrado por um passado próximo de armas, sangue, guerra. . . É difícil poder conjecturar centenas de milhares de corpos empilhados e enterrados em valas comuns, o odor que chega às narinas de carne humana já em decomposição. A memória dos que se foram ainda podem ser sentidas pelo mau cheiro dos seus cadáveres. A urina infesta Porto Príncipe, nas casas que restaram agora mora o medo, nas ruas e praças o chão quente ou frio e sujo é o local mais "seguro" para abrigo. Mais adiante, crianças órfãs, adotadas pela miséria de um país sem governo, lei, sem nada. O choro da comoção universal: Minustah, FMI, ONU, OMS e de todo mega bloco, chamado HUMANIDADE. É com toda esperança e otimismo que torço pelo soerguimento do país mais pobre da América e das vidas que ali ainda (sub)vivem. (Víctor Sousza)

[...]
"E diz o Grande Diretor, em momento de insight criativo, levado pelos destinais ventos da inspiração :Parem as máquinas! Vamos projetar um filme novo, vamos abalar o formigueiro universal e brincar
com a metáfora dos tempos modernos, usando o Haiti, a terra do Vodu, como pano de fundo! É preciso mexer com o “juízo” do tempo, balançar a
árvore da vida, jogar luz sobre os campos devastados das cicatrizes do orbe !
Contra-regras abalam o planeta, ouve se o ranger de
fendas colossais, o chão estremece na Ilha Caribenha, palco de misérias sem fim, reduto de almas carcomidas pela desgraça.
Desabam construções, enterram-se estudantes em salas de aula, hospitais coalhados de enfermos sem esperança ruem como um pó
amontoado e sem liga. Morrem estrangeiros do mundo todo, que, a pretexto de formarem uma força de paz,
estavam armados e em formação de guerra. Jordanianos e Chineses, Brasileiros e Americanos, em número de uns sete mil, são

personagens de situações desesperadoras. Assustados, alguns governantes se antecipam ao luto e às providências programadas.
A tragédia leva, de forma emblemática, uma mulher branca e de olhos azuis, que fizera com brilhantismo o papel de pastora de almas entediadas. Passava pela cena em missão : ia levar uma mensagem positiva para aquela gente marcada. Deixou a mensagem junto com o seu próprio corpo. Grande mensageira, que bela forma de encerrar sua palestra !
Mundo Sinistro das humanas representações, o quanto ainda te falta ? A sanha histórica pelo sangue, pelo medo, pela dor, por movimento, é teu roteiro principal. Não te pode faltar este fragor, este destempero, esta apoplexia pela aventura, pela ação, pela morte.
Agora, dias e dias para carpir o teu luto, para contar os teus mortos, para lavar tuas toneladas de roupa suja, bocas sujas, mãos imundas. Ao menos, na grande metáfora, não inimigos para culpar, perseguir e punir e gastarás teu tempo em lamentações e explicações débeis e inúteis. Chorarão juntos, batendo continência e com honras das Forças Armadas das Nações, os militares cujos corpos serão devolvidos aos seus torrões natais. Guardiões abstratos da segurança comum . . .
Em silêncio cerimonial o planeta se perguntará entre lapsos de memória/esquecimento : Que guerra foi aquela ?" (Valéria Montenegro)

quarta-feira, 13 de janeiro de 2010

Fim do Estado- análise Norberto Bobbio

Em princípio, ao falarmos de uma sociedade sem a presença de uma organização politicamente organizada, Bobbio nos remete a tese de Engels, segundo ela, assim como um Estado teve sua origem, ele também terá um fim. Este chegaria quando as causas que o deram origem se extinguirem. Em outras palavras para Engels e também Marx, as causas que produziram o Estado seria a contraposição das classes distintas, quando a divisão e as contraposições passarem a não mais existir assim teríamos a morte do Estado, entretanto esta análise será feita mais adiante quando formos falar do Estado como mal não necessário.
Nesse momento, é importante que se faça a separação entre o fim do Estado e o problema da crise estatal, esta última pode ser percebida pelas transformações constantes que essa instituição assume ao longo de sua história, movidos pelo dinamismo social os modelos de intervenções do estado se renovam, revendo de que forma agir na sociedade. Fazendo uma breve viagem histórica podemos perceber esses processos de transformações. No século XVIII, foi estruturado um Estado liberal reduzindo sua esfera de atuação a segurança pública, a arrecadação de impostos e aos problemas internacionais (diplomacia), após a 1º Guerra Mundial, a Revolução Russa e tendo o estopim na década de 30, o Estado liberal entra em crise já não atendendo as necessidades daquela sociedade, surgindo assim o Estado Social-Burocrático, de cunho intervencionista, que aparece nos países de 1º Mundo com o nome de Estado do Bem-Estar Social (Welfare State) e nos países do bloco soviético como Estado Comunista. Aos poucos a estrutura intervencionista também entra em crise, começando um novo processo de desconcentração e descentralização.
A crise de um Estado capitalista, por exemplo, é percebida quando não se consegue mais regular ou tutelar o poder dos grandes grupos que estabelecem concorrência entre si. Em um Estado democrático a crise se faz presente quando não é mais possível atender às demandas vindas da sociedade. O fim do Estado por sua vez, como apresentado por Bobbio está intimamente relacionado às correntes axiológicas positivas e negativas de Estado.
Adotando uma idéia positiva da organização estatal, notaremos o Estado como uma instituição a favor do desenvolvimento e progresso civil. Quer no sentido aristotélico na qual encontramos a existência da polis a função de tornar possível uma vida feliz, quer no sentido racional que passa por Spinoza, Rousseau até Hegel, onde há o Estado como protetor da vida racional do homem (fora do Estado, segundo eles existe o mundo das paixões).
O Estado, portanto no sentido positivo não teria fim porque não constituiria um mal, de certa forma ele estaria atrelado à idéia de uma república ótima, que não é perfeita mais previsível de aperfeiçoamento. Na sua representação máxima de república ótima teríamos o arquétipo das repúblicas ideais (não são possíveis de existência), que possuem uma idéia extremamente positiva do Estado e sendo altamente controlada por ele. No contraponto dessa concepção, Bobbio apresenta e poderíamos e ir mais além apresentando a idealização negativa do Estado de George Orwell na obra “1984”, que é uma metáfora pessimista do mundo pós-guerra dominado pelo totalitarismo, no livro Orwell não quer apenas criticar o nazismo e o stalinismo da década de 30 e 40, mas toda forma de governo que reduza o indivíduo as regras de controle total impostas pelo Estado. Em “1984” encontra-se um único partido (IngSoc), tutor de todos os atos e liberdades individuais de seus membros vigiados pelas Teletelas, tendo sempre a onipresença do Grande Irmão.
Adotando uma concepção negativa de Estado, partindo do juízo de que Estado é um mal, segundo Norberto Bobbio, teremos duas subcorrentes: o Estado como mal necessário e o Estado como um mal não necessário (apenas essa remete a idéia do fim do Estado).
O Estado como mal necessário, reconhece o estado como um ente maléfico, porém indispensável à existência da sociedade. Julgado sobre a óptica cristã, o Estado é entendido como “remedium peccati”, pois o corpo social é perverso e egoísta e deve ser regulado por meio do medo, o princípio aqui apresentado é a conhecida teoria hobbesiana, que possui uma visão pessimista do homem, que abandona a si mesmo e torna-se lobo para outro homem, porém há o Leviatã (Estado) o monstro capaz de regular as condutas humanas. Na visão cristã há, portanto, um Estado e acima dele há a Igreja, que mesmo o considerando uma instituição imperfeita é este que a beneficia. Por esse motivo, o Estado deve continuar a sobreviver, pois é melhor a sua negatividade do que uma anarquia. A sociedade civil, por sua vez, julga o Estado como mal necessário limitando os poderes desse Estado ao mínimo possível, é o que conhecemos por Estado mínimo, que para Adam Smith o papel dessa instituição é unicamente promover a ordem interna, assegurar a defesa externa, além de executar as tarefas públicas, portanto, o Estado estaria desvinculado de regular a economia e os outros assuntos afins, sendo essas idéias de suma importância para a ascendência do liberalismo. Segundo alguns teóricos o Estado para ser um bom Estado deve governar o menos possível. Thomas Paine, diz quais as exigências para o surgimento desse Estado mínimo:
“A sociedade é produzida por nossas necessidades e o governo por nossa perversidade; a primeira promove a nossa felicidade positivamente mantendo juntos os nossos afetos, o segundo negativamente mantendo sob o freio os nossos vícios. Uma encoraja as relações, o outro cria distinções. A primeira protege, o segundo pune. A sociedade é sob qualquer condição uma dádiva; o governo inclusive na sua melhor forma, nada mais é que um mal necessário, e na sua pior forma é insuportável” .

Percebemos na colocação de Paine, que o Estado existe com o principal desiderato de manter a ordem social, por meios de coerções, punições que mesmo sendo necessárias fazem desse Estado um mal. As sanções impostas pelo Estado, logo surgem para driblar o anti-social que inevitavelmente aflorará no seio da sociedade. Marquês de Sade tece uma citação importante: “Não há outro inferno para o homem além da estupidez ou da maldade dos seus semelhantes”. O homem antes mesmo de ser um ser social é um ser da natureza que atende as ambições e instintos de egoísmo jamais percebidos em outra espécie. Mahatma Gandhi também coloca: “Há riqueza bastante no mundo para as necessidades do homem, mas não para a sua ambição”. A todo o tempo o individual choca-se e entra em conflito com os seus semelhantes. É, pois, o Estado que dará segurança aos homens e alimentar a estrutura do organismo social. Portando, esse órgão político observado sobre tal ponto de vista é um mal, porém um mal indispensável à sociedade.
Esse mesmo Estado com uma atuação mínima, não quer dizer necessariamente o seu fim, uma vez que ele continua a atuar em certas áreas da sociedade. Uma teoria interposta entre esses dois extremos da ideia de Estado mínimo e fim do Estado, é a teoria anglo-saxã (Teoria Pluralista), embasada na distinção entre a descentralização funcional e na tese de que o Estado deve ater sua própria função à de supremo coordenador dos grupos funcionais, econômicos e culturais. Em resumo, os indivíduos corresponderiam a alguma associação funcional (produtor, consumidor, cidadão), enquanto o Estado seria o entre suprafuncional com a tarefa não de domínio, mas de coordenação.
O Estado como conceito de um mal não necessário (idéia que remete ao fim do Estado), analisado por Bobbio, está compreendido em todas as teorias como uma instituição que detém o monopólio da força e dos meios necessário a reprovação dos que contribuem pra a desarmonia social. Ele, portanto, teria seu fim quando as necessidades desses meios de coerções desaparecessem.
Voltando a ideia de Estado mínimo, que primeiramente adquiriu a liberdade em relação ao poder ideológico, permitindo a maior difusão de idéias, crenças religiosas e aptidões políticas. Depois teve o fim do monopólio em relação ao poder econômico, permitindo a livre comercialização e transmissão de bens. Até esse ponto de emancipação não teríamos o fim do Estado, que só ocorreria quando a sociedade se libertasse totalmente do poder coativo.
Uma das teorias mais conhecidas a respeito do fim do Estado é a de Marx e Engels. Caracterizando o surgimento do Estado como o produto da divisão trabalho e de classes contrapostas que compõe a sociedade (por exemplo: senhor e escravo, suserano e servo, industrial e operário), mostrando sempre o domínio das classes que se encontram no centro sobre as periféricas. Logo, o fim do Estado ocorreria  quando a ditadura do proletariado tomasse o poder fazendo com que a divisão de classes já não exista mais. Além dessa teoria, Norberto Bobbio, nos apresenta outras três teorias acerca do extermínio estatal.
A primeira delas é a teoria de origem religiosa, que reconhece que uma sociedade vivendo sobre os preceitos cristãos não necessita do aparato estatal e das suas instituições políticas, negando a milícia e os tribunais.
Do outro lado, teríamos uma segunda teoria conhecida de atualmente de tecnocrática, como foi exposta por Saint-Simon, que refuta os guerreiros e os legistas na sociedade industrial, reconhecendo os produtores e cientistas como eixo principal de um corpo social, não havendo mais a necessidade da força emanada pela soberania do Estado, caracterizando assim o seu fim.
A última das três teorias expostas por Bobbio é a anarquista, precursora de vários movimentos revolucionários no século XVII e até hoje apresenta sinais de existência. O anarquismo caracteriza-se pela forma plena de libertação do indivíduo em todas as formas que o possam indeferir na sua autonomia, negando qualquer tipo de autoridade religiosa, econômica ou política.O anarquismo nasce na mesma época da ascendência do socialismo de Engels e Marx e tem com um dos seus principais teóricos Pierre-Joseph Proudhon. A primeira das bases desse movimento é a negação da propriedade privada, sendo esta uma forma de suicídio para a sociedade. O segundo ponto de apoio da teoria é o próprio fim do Estado, uma vez que este é entendido como uma organização perigosa e desnecessária a sociedade, caracterizado como instrumento de opressão do homem sobre o homem, sempre favorecendo as classes dominantes. Uma terceira característica do anarquismo seria a crença na liberdade e cooperação voluntária, sem a necessidade do Estado e de suas leis.
Assim, para os anarquistas deveria haver uma sociedade equilibrada na ordem, de forma a não existir coação, fundada apenas na autodisciplina dos indivíduos e na concepção otimista do homem.
Analisado através de concepções positivas e negativas o aparelho estatal, concluímos a partir das idéias expostas no texto de Norberto Bobbio, acerca do tema o fim do Estado, que apenas o Estado entendido como um mal não necessário (concepção mais forte dentro da valoração negativa) remete a esse fim, nesse ponto Bobbio nos apresenta as doutrinas marxista-engelsiana, a religiosa, a tecnocrática e a anarquista, todas negando a não necessidade do poder coativo. No extremo oposto temos o Estado entendido sob a valoração positiva, este não teria um fim, pois não constituiria um mal. Bobbio apresenta o fim do Estado como sendo uma ligação para qual o homem sobreviveria e se desenvolveria sem a necessidade dos meios de coerção.

(Víctor Sousza)