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quarta-feira, 12 de dezembro de 2012

Da Alvorada




Hoje a saudade veio cumprimentar-me de mau jeito.
Mal amanhecera o dia
E ainda prostrado ao meu leito,
De bruços a esfolar a fronha macia,
Senti tua ausência
A estraçalhar meu peito.
Saudade talvez por devaneio,
Impulso, libido ou volúpia.
Talvez por defeito
Afeto, flama, fogo ou fulgor.
É saudade de cada veia,
Ventrículo, cada olhar estreito,
Cada sussurro rarefeito...
Uma saudade puta desgraçada,
Que não tem hora marcada,
Mas que sempre em meio à alvorada
Começa a enzambuar meu peito.

(Víctor Sousza) 12/12/2012

domingo, 4 de novembro de 2012

Da Bênção



Quem dera que fôssemos abençoados por Hera,
E por todas as divindades da exosfera.
Quem dera que todo romance fosse fogo, fosse fera
E nossas vidas uma eterna primavera.

Quem dera que tua mendacidade fosse sincera,
E o nosso amor não fosse quimera.
Quem dera que ainda fôssemos amigos a espera
De um bom sorriso, quem dera (...)

Quem dera que todo aquele encanto
Fosse obra de santo
Pra que nunca, nunca, terminasse em pranto.

Quem dera, entretanto,
Que a saudade não fosse essa cratera
A degenerar a rima do último verso do último canto. (Víctor Sousza)

terça-feira, 22 de maio de 2012

Da cautela



Que tua presença não seja meu consolo
Tampouco a tua ausência meu descontentamento,
Pois por mais bucéfalo que seja um tolo
Sabe que o Omega do amor é o Alfa do tormento.

E se o que me ceifa é a ânsia por teu colo,
Farei da distância um ligamento,
Do teu beijo sem protocolo
E do Adeus um só momento.

De tudo, no entanto, urge cautela,
Da cólera do calvário à glória da vida,
Por mais que seja sentimento de donzela,

Temas, pois dor de amor é dor dolorida.
E a ferida que arde deixa sequela
Como deixa a chama na vela aquecida".
(Víctor Sousza)

quinta-feira, 15 de março de 2012

Da tristeza e outras rimas vadias


Que triste seria
A Constituição sem democracia,
A guerra sem diplomacia,
A revolução sem a burguesia,
A Grécia sem mitologia,
A bolsa sem economia,
O Mc Donalds sem franquia,
A taverna sem vadia,
A Feiticeira sem academia,
O funk sem Melancia,
Os torcedores sem euforia,
Os shows sem cortesia,
A sorte sem loteria.
A vida sem Luzia,
O câncer sem cirurgia,
A dor sem anestesia,
As lembranças sem fotografia,
Cazuza sem biografia,
Colombo sem cartografia,
Maomé sem profecia,
Os santos sem romaria,
Soleil sem acrobacia,
Os idosos sem aposentadoria,
O amor sem terapia,
Da luz sem o dia.
Da noite sem boêmia,
Do mundo sem poesia.
(Víctor Sousza)

Do pedido


TEXTO 1- De Bandeira para Teresa!

"Teresa, se algum sujeito
bancar o sentimental em cima de você
E te jurar uma paixão do tamanho de um bonde
Se ele chorar
Se ele se ajoelhar
Se ele se rasgar todo
Não acredita não Teresa
É lágrima de cinema
É tapeação
Mentira
CAI FORA."
(Manuel Bandeira)
TEXTO 2- De Víctor para Teresa.

"Teresa escuta o que Bandeira lhe diz,
Não te iludas
Por simpatia barata,
Por sorriso maroto,
Ou por qualquer magnata
Escuta!
Todo homem é um pouco malandro,
Todo diabo tem um pouco de santo,
Até os feios possuem encanto.
Portanto, Teresa
Dou-lhe um conselho:
Fica comigo!
De antemão só adianto:
Não tenho dinheiro,
Não choro,
Não ajoelho.
Amo a paisana,
Não sou Montéquio,
Nem você Capuleto.
Para quê um drama?
Não precisamos de bondes-paixão,
De incômodos ao nascer do dia,
Ao cair da lua.
Desiluda da perfeição Teresa.
Fica comigo,
Não sou tapetão
Posso ser um Romeu pós-moderno,
Dá-lhe amor sincero,
Prometer fidelidade.
(Só não garanto que seja eterno)
Aceita!
FICA COMIGO..."
(Víctor Sousza)