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quarta-feira, 11 de junho de 2014

Inverso


Quero o mais estéril dos sonetos,
Dos sentidos o mais árido e duro,
Um cataclismo de cianureto
No mais diminuto e ressequido dos futuros.

Quero desafiar o alótropo do carbono─ o preto,
A dissimular um poema obscuro,
Que seja tão desprezível como um inseto
E como infante totalmente inseguro.

Quero cuspir nos últimos tercetos,
Relegando a maturidade dos próximos versos
(Desprezo, por assim dizer, os préstimos do carbureto);

Que sob os lampejos de Aldebarã imersos,
Não desejo nada além do obsoleto.
Dessa ode negra só espero o inverso.

(Víctor Souza- 11/06/2014)

sábado, 4 de janeiro de 2014

Sambô



Um salve
a baiana Dona Canô,
a Negra do Sol
que joga Tarô,
a humanidade e  a beleza
de Brigitte Bardot,
ao Zé do Caroço,
ao meu Orixá Xangô,
ao samba de Arerê,
ao aço fundido do agogô,
ao choro da cuíca
a la Yorubá Nagô.
Vibre ao samba,
pois mente
quem finge que não sente
a batucada demente
de um samba cadente
e coro envolvente dos bandolins.
Mente quem não se enternece
Com o som estridente
De um reco-reco pungente
Ao reclamo descrente
Das conversas tristes de botequins.


Víctor Sousza (04/01/2014)