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segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

"A grande metáfora do Haiti"

Esse texto "A grande metáfora do Haiti" escrito pela grande profª Valéria Montenegro, em poucas palavras encontra (embora inimaginavelmente distante) o imenso sofrimento desse país literalmente em ruínas e assombrado por um passado próximo de armas, sangue, guerra. . . É difícil poder conjecturar centenas de milhares de corpos empilhados e enterrados em valas comuns, o odor que chega às narinas de carne humana já em decomposição. A memória dos que se foram ainda podem ser sentidas pelo mau cheiro dos seus cadáveres. A urina infesta Porto Príncipe, nas casas que restaram agora mora o medo, nas ruas e praças o chão quente ou frio e sujo é o local mais "seguro" para abrigo. Mais adiante, crianças órfãs, adotadas pela miséria de um país sem governo, lei, sem nada. O choro da comoção universal: Minustah, FMI, ONU, OMS e de todo mega bloco, chamado HUMANIDADE. É com toda esperança e otimismo que torço pelo soerguimento do país mais pobre da América e das vidas que ali ainda (sub)vivem. (Víctor Sousza)

[...]
"E diz o Grande Diretor, em momento de insight criativo, levado pelos destinais ventos da inspiração :Parem as máquinas! Vamos projetar um filme novo, vamos abalar o formigueiro universal e brincar
com a metáfora dos tempos modernos, usando o Haiti, a terra do Vodu, como pano de fundo! É preciso mexer com o “juízo” do tempo, balançar a
árvore da vida, jogar luz sobre os campos devastados das cicatrizes do orbe !
Contra-regras abalam o planeta, ouve se o ranger de
fendas colossais, o chão estremece na Ilha Caribenha, palco de misérias sem fim, reduto de almas carcomidas pela desgraça.
Desabam construções, enterram-se estudantes em salas de aula, hospitais coalhados de enfermos sem esperança ruem como um pó
amontoado e sem liga. Morrem estrangeiros do mundo todo, que, a pretexto de formarem uma força de paz,
estavam armados e em formação de guerra. Jordanianos e Chineses, Brasileiros e Americanos, em número de uns sete mil, são

personagens de situações desesperadoras. Assustados, alguns governantes se antecipam ao luto e às providências programadas.
A tragédia leva, de forma emblemática, uma mulher branca e de olhos azuis, que fizera com brilhantismo o papel de pastora de almas entediadas. Passava pela cena em missão : ia levar uma mensagem positiva para aquela gente marcada. Deixou a mensagem junto com o seu próprio corpo. Grande mensageira, que bela forma de encerrar sua palestra !
Mundo Sinistro das humanas representações, o quanto ainda te falta ? A sanha histórica pelo sangue, pelo medo, pela dor, por movimento, é teu roteiro principal. Não te pode faltar este fragor, este destempero, esta apoplexia pela aventura, pela ação, pela morte.
Agora, dias e dias para carpir o teu luto, para contar os teus mortos, para lavar tuas toneladas de roupa suja, bocas sujas, mãos imundas. Ao menos, na grande metáfora, não inimigos para culpar, perseguir e punir e gastarás teu tempo em lamentações e explicações débeis e inúteis. Chorarão juntos, batendo continência e com honras das Forças Armadas das Nações, os militares cujos corpos serão devolvidos aos seus torrões natais. Guardiões abstratos da segurança comum . . .
Em silêncio cerimonial o planeta se perguntará entre lapsos de memória/esquecimento : Que guerra foi aquela ?" (Valéria Montenegro)

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